sábado, 15 de setembro de 2018

Realismo no Brasil

Conhecido como um dos movimentos literários mais chocantes, a estética realista rompeu com as barreiras da literatura tradicional, trazendo abordagens e temáticas nunca vistas no âmbito literário. No final do século XIX um novo jeito de fazer Literatura nascia com o Realismo, cujos autores tinham na denúncia uma forma de criticar as mazelas humanas e as hipocrisias sociais.


Confesso que particularmente sou um apaixonado pela estética realista. Isso porque, da mesma forma que seus escritores, detesto a hipocrisia social. A forma como os realistas conduzem suas narrativas, a linguagem áspera utilizada, as técnicas inovadoras na escrita, tudo isso me encanta. Não é à toa que sou um dos grandes fãs da escrita machadiana e de nosso inestimável Queirós.

O Realismo surgiu no final do século XIX, momento em que, no plano mundial, a sociedade começava a olhar com outros olhos as descobertas científicas, embora ainda permanecesse imutável quando o assunto era comportamento. Diante da indiferença e da hipocrisia social, e muito mais com o desejo de fazer ruir as chamadas “chatas técnicas e tradicionais estéticas românticas, o Realismo surgiu para desnudar as hipocrisias sociais e destruir, em sua forma artística, as heranças deixadas pelo Romantismo. Não é inadequado supor o porquê de o movimento ter sido tão rechaçado pela sociedade da época: era desagradável e humilhante se ver pintados com tintas tão fortes em uma arte tão valorizada na época como era a Literatura...

Desde que se ouviu falar de Literatura no ocidente, acredito que os realistas foram os primeiros (se eu estiver errado, me corrijam!) a terem suas obras vítimas da cruel censura da Igreja Católica e da própria sociedade. Alvo de muitas críticas, a igreja se viu obrigada a condenar várias obras, consideradas uma afronta à moral e aos bons costumes da população. Podemos ver isso claramente com Madame Bovary (1857), do francês Gustav Flaubert — que inclusive sofreu um processo judicial na época, o que interrompeu por um ano a publicação do romance —, como também O Crime do Padre Amaro (1875) — um escândalo para a época —, e O Primo Basílio (1877), ambas do português Eça de Queirós. No Brasil, meu pouco conhecimento histórico não permite dizer se houve alguma obra proibida, embora tenha certeza de que Dom Casmurro (1900) não foi vista com bons olhos pela elite portuguesa.

Tendo em vista a euforia escandalosa causada na Europa por conta desses romances extremamente inovadores para a época, no Brasil esse alvoroço não foi tão grande assim, mesmo que aqui se tenha proibida a circulação daquelas obras que atentavam contra à moral pública e religiosa. Nosso principal representante realista, Machado de Assis, escreveu romances lindíssimos e que entraram para a história da Literatura, mas embora houvesse em seus textos críticas e palavras ácidas contra os grandes segmentos sociais, a qualidade de sua obra ultrapassou o desagrado com a inovação e temática assumidas em cada romance, em cada conto e em cada outro texto que Machado tenha escrito. Pelo menos não que eu saiba...

Assim, o principal objetivo dos artistas realistas era apresentar na Literatura, até então romanesca e distante dos fatos reais, a sociedade do século XIX, com suas mazelas, suas hipocrisias, suas injustiças e sua imoralidade, principalmente aquelas provocadas pelo clero e pela grande e poderosa burguesia da época. Por isso que eles não gostaram: ninguém queria se ver retratado em obras literárias... No entanto, mesmo com o desagrado da sociedade e com as críticas recebidas, o movimento realista conseguiu se consolidar na história da Literatura Brasileira através da publicação de obras que são referência nacional literária.

As palmas para o sucesso do Realismo no Brasil se devem a Machado de Assis. Dono de uma riquíssima produção literária, Machado foi a pessoa que inseriu a estética realista brasileira, já que ele transitou entre os dois movimentos literários durante sua vida, o Romantismo e o Realismo. É clara em suas obras a diferença que marca suas duas fases. Isso se vê muito na linguagem utilizada, na temática dos romances e até mesmo na estrutura da obra e como ele nos apresenta a narrativa. Sua obra, nesse contexto, embora muitas vezes inspirada nos “escândalos” europeus, é extremamente única e contemporânea sempre. Querem uma prova? O que dizer de Dom Casmurro, em que ainda hoje é impossível dizer se Capitu traiu ou não traiu Bentinho? Machado é e sempre foi genial.

Os materiais que disponibilizo abaixo trazem um pouco desse encantamento do movimento realista. Nos slides que preparei há, de forma resumida, o início e a repercussão do Realismo aqui no Brasil, dando destaque para suas características e, principalmente, duas obras de inestimável valor para a Literatura Brasileira: Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881) e Dom Casmurro, ambas machadianas.

BAIXE TUDO SOBRE O REALISMO

Observação: O arquivo de slides está em formato PDF para evitar que se desconfigure em outro computador. Para ter acesso ao arquivo editável, enviar e-mail para orafael.mota@gmail.com.