Durante
toda a minha carreira como professor de língua portuguesa, em especial ao
ministrar aulas de redação em um cursinho pré-vestibular, deparo-me com uma
situação que, acredito, seja comum à maioria dos professores de português: a
falta de capacidade de nossos estudantes em escrever um texto que possua uma
boa estrutura e que siga uma linha de raciocínio que demonstre que o texto
escrito foi planejado.
É bem comum, quando vou ler/corrigir as
redações — principalmente as do modelo do Enem —, que a grande
maioria dos textos, embora tenham a chamada “estrutura modelo” (contextualização/problematização/tese/argumentos/intervenção),
passam por um grande problema referente à profundidade das ideias ou mesmo a
ordem como as ideias são colocadas, de modo que o texto fica sem um fio
condutor em torno da defesa do ponto de vista. Tal problemática advém de uma
prática que raramente é ensinada nas escolas e, consequentemente, não é
desenvolvida pelos estudantes: falo do planejamento textual.
Qualquer teórico que se debruce sobre a prática de
produção de textos defende a ideia de que um bom texto precisa ser bem
planejado, isto é, precisa-se prever as ideias que irão ser inseridas e como as
mesmas poderão ser inseridas de forma a corroborar com — no caso do texto
dissertativo-argumentativo — a defesa do ponto de vista. Tal atividade deve,
obviamente, ser realizada antes da escrita do texto e exige, por parte
do estudante, o desenvolvimento de duas habilidades anteriores.
A primeira refere-se ao entendimento da proposta de
redação. Peguemos o caso, por exemplo, do texto da redação do Enem. No planejamento
de uma redação desse tipo, o estudante precisa, antes de prever suas ideias,
saber o que a proposta de redação exige (no caso do Enem, exige-se, dentre
outras coisas, uma proposta de intervenção, característica desse texto em
específico). O mesmo vale se o gênero for uma carta, uma receita culinária, um
artigo de opinião etc.: o aluno precisa saber o que a proposta em si exige e, a
partir disso, buscar estratégias de planejamento textual.
A segunda refere-se ao conhecimento da composição e
estilo do próprio gênero textual. Simplificando um pouco as coisas, todo texto
apresenta uma estrutura e um estilo próprios que caracterizam aquele
determinado texto e que são construídos a partir das demandas sociocomunicativas.
É por isso que se ao aluno for solicitado que ele redija uma resenha de um
determinado filme, ele precisa saber que a resenha crítica inicia com os dados
do filme a fim de o leitor ter referências; ou mesmo se ao aluno for solicitado
a elaboração de uma fábula, ele precisa saber que as fábulas se caracterizam
por possuir uma moral ou mesmo a presença de animais: é o estilo e a estrutura
do texto.
Tais habilidades se conjugam com as ideias do
estudante sobre a temática e a partir daí pode-se elaborar o planejamento.
Diante dessas questões, o material que aqui disponibilizo foi criado. Embora
simples, ele dá uma pequena ideia de como o planejamento textual funciona e
cria no estudante e no professor estratégias de como desenvolvê-lo em sala de
aula. No material, explico o que é um planejamento textual, falo sobre as
partes de um texto, dou as orientações mais básicas sobre como começar a
construir um bom planejamento e finalizo com um exemplo de planejamento para a
redação do Enem.
Escrever, como sempre defendi, não é uma tarefa
fácil, mas como toda habilidade, é algo que pode ser adquirido com muita
prática e estratégia. Escrever uma redação, por exemplo, assim como qualquer
texto, requer, sim, planejamento estratégico e prática para que cada vez mais
nossos estudantes possam produzir textos cada vez mais coerentes, inteligentes,
críticos e profundos.
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