sexta-feira, 6 de março de 2020

Planejamento Textual

Durante toda a minha carreira como professor de língua portuguesa, em especial ao ministrar aulas de redação em um cursinho pré-vestibular, deparo-me com uma situação que, acredito, seja comum à maioria dos professores de português: a falta de capacidade de nossos estudantes em escrever um texto que possua uma boa estrutura e que siga uma linha de raciocínio que demonstre que o texto escrito foi planejado.

É bem comum, quando vou ler/corrigir as redações — principalmente as do modelo do Enem —, que a grande maioria dos textos, embora tenham a chamada “estrutura modelo” (contextualização/problematização/tese/argumentos/intervenção), passam por um grande problema referente à profundidade das ideias ou mesmo a ordem como as ideias são colocadas, de modo que o texto fica sem um fio condutor em torno da defesa do ponto de vista. Tal problemática advém de uma prática que raramente é ensinada nas escolas e, consequentemente, não é desenvolvida pelos estudantes: falo do planejamento textual.

Qualquer teórico que se debruce sobre a prática de produção de textos defende a ideia de que um bom texto precisa ser bem planejado, isto é, precisa-se prever as ideias que irão ser inseridas e como as mesmas poderão ser inseridas de forma a corroborar com — no caso do texto dissertativo-argumentativo — a defesa do ponto de vista. Tal atividade deve, obviamente, ser realizada antes da escrita do texto e exige, por parte do estudante, o desenvolvimento de duas habilidades anteriores.

A primeira refere-se ao entendimento da proposta de redação. Peguemos o caso, por exemplo, do texto da redação do Enem. No planejamento de uma redação desse tipo, o estudante precisa, antes de prever suas ideias, saber o que a proposta de redação exige (no caso do Enem, exige-se, dentre outras coisas, uma proposta de intervenção, característica desse texto em específico). O mesmo vale se o gênero for uma carta, uma receita culinária, um artigo de opinião etc.: o aluno precisa saber o que a proposta em si exige e, a partir disso, buscar estratégias de planejamento textual.

A segunda refere-se ao conhecimento da composição e estilo do próprio gênero textual. Simplificando um pouco as coisas, todo texto apresenta uma estrutura e um estilo próprios que caracterizam aquele determinado texto e que são construídos a partir das demandas sociocomunicativas. É por isso que se ao aluno for solicitado que ele redija uma resenha de um determinado filme, ele precisa saber que a resenha crítica inicia com os dados do filme a fim de o leitor ter referências; ou mesmo se ao aluno for solicitado a elaboração de uma fábula, ele precisa saber que as fábulas se caracterizam por possuir uma moral ou mesmo a presença de animais: é o estilo e a estrutura do texto.

Tais habilidades se conjugam com as ideias do estudante sobre a temática e a partir daí pode-se elaborar o planejamento. Diante dessas questões, o material que aqui disponibilizo foi criado. Embora simples, ele dá uma pequena ideia de como o planejamento textual funciona e cria no estudante e no professor estratégias de como desenvolvê-lo em sala de aula. No material, explico o que é um planejamento textual, falo sobre as partes de um texto, dou as orientações mais básicas sobre como começar a construir um bom planejamento e finalizo com um exemplo de planejamento para a redação do Enem.

Escrever, como sempre defendi, não é uma tarefa fácil, mas como toda habilidade, é algo que pode ser adquirido com muita prática e estratégia. Escrever uma redação, por exemplo, assim como qualquer texto, requer, sim, planejamento estratégico e prática para que cada vez mais nossos estudantes possam produzir textos cada vez mais coerentes, inteligentes, críticos e profundos.

BAIXE O MATERIAL

Observação: Os materiais estão em formato PDF para evitar que se desconfigurem em outro computador. Para ter acesso ao arquivo editável, encaminhar e-mail para orafael.mota@gmail.com.