quarta-feira, 1 de maio de 2019

Bom-Crioulo, de Adolfo Caminha

Ontem (30), estive no município de Uruburetama, Ceará, participando do V Sarau de Literatura Cearense da EEEP Maria Auday Vasconcelos Nery. O evento, que contou com a participação de outros convidados, teve como objetivo principal incentivar a prática da leitura literária cearense. Cada convidado ficou responsável para criar um momento para uma turma de alunos do Ensino Médio em que apresentava e conversavam sobre o livro.

O livro que escolhi para apresentar e tratar com os alunos foi o romance Bom-Crioulo, do cearense Adolfo Caminha. Considerado por muitos críticos literários como o primeiro romance de temática homossexual do Ocidente, o livro foi visto como subversivo e, consequentemente, impróprio para a leitura daqueles que se consideravam protetores da moral e dos bons costumes.

Publicado em 1895, quando Adolfo Caminha estava no Rio de Janeiro após um escândalo amoroso o expulsar de Fortaleza no início da década de 1890, o romance Bom-Crioulo conta a história de amor trágico envolvendo dois homens: Amaro e Aleixo, ambos prestadores de serviço na Marinha Brasileira do fim do século XIX. Amaro é um escravo fugido que após ser aceito na Marinha, conhece Aleixo, um jovem de apenas 15 anos, por quem se apaixona. Como moeda de troca pela proteção recebida por Amaro, Aleixo acaba cedendo aos caprichos sexuais do negro e passam a ter um relacionamento, que passa a ser ameaçado quando do surgimento na história de D. Carolina, uma ex-prostituta.

Como todo romance naturalista, a história vai construindo um acertado romance de tese, em que todos os comportamentos dos personagens são influenciados pelos ambientes nos quais os mesmos estão inseridos. Assim, a homossexualidade de Amaro, as condições em que se acham os marinheiros e mesmo o ambiente másculo e rígido da Marinha, acabam influenciando Aleixo a manter um romance homossexual. Essa tese fica tão mais acertada ainda quando, ao lado de D. Carolina, Aleixo passa a questionar-se de seus reais sentimentos por Amaro.

Lógico que o romance ultrapassa essa simples análise. Mais interessante ainda é nos aprofundarmos nos perfis psicológicos dos personagens e buscar justificar suas atitudes, claramente instintivas, como bem reza a estética naturalista. Amaro e Aleixo, por exemplo, são um o oposto do outro, destacando o jogo de oposições que a obra traz entre masculinidade x feminilidade, homem negro x homem branco, amor x ódio etc. Muito há ainda a se observar nas ambientações, cenários, linguagem e a importância que os personagens secundários ofertam à trama, que muito critica também os costumes cariocas do século XIX.

A obra, enfim, é um marco não só literário, mas histórico, ao trazer o Rio de Janeiro do século XIX pintados com tintas tão realistas. O ambiente da Marinha, por exemplo, é muito bem retratado por Caminha, pois este teve a oportunidade de desde adolescente, estudar e trabalhar no ambiente extremamente rígido. É um dos pontos altos do romance as cenas de castigo nas embarcações e o trabalho realizado pela equipe em pleno alto-mar. Da mesma forma que o romance convence pelo realismo, ele emociona pela cenas de amor, raiva, sexo, saudade, ciúme e desespero, sentimentos esses que, se bem aprofundados em uma boa história como é Bom-Crioulo, conquistam qualquer um.

O momento que tive na escola, é claro, não contou apenas com a apresentação do livro. Quem me conhece, inclusive, sabe que não dou spoillers sobre o romance; minha função é apenas, fazer um merchandising da obra, incentivando o aluno a ler. Por isso, sempre que vou realizar trabalhos como esses nas escolas, entremeio o momento sobre o livro com canções, declamação de pequenos poemas e muita, mas muita contação e leitura de histórias livres, apenas por deleite.

Trabalhar literatura na escola, para mim, pode ser feito a partir duas perspectivas, cujas ações, porém, são as mesmas. A primeira é feita se o aluno já conhece a obra; a segunda, se o aluno não conhece a obra. Em ambos os casos, é sempre necessário ler, ler muito, buscando relações com a vida, com as experiências vividas e conversar com o que ainda não foi lido, destacando sempre as emoções e o uso da palavra.


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