Em meu trabalho enquanto professor de cursinho preparatório para o vestibular, deparo-me sempre com textos vazios de intenções, cujas ideias são meras repetições dos textos motivadores. Evidentemente, a causa para essa realidade também está relacionada à forma como se propõe o ensino de produção textual nas escolas e, além disso, do problema geral da falta de ideias dos nossos estudantes. Infelizmente, a estrutura pedagógica de um cursinho pré-vestibular me impede, muitas vezes, de realizar um trabalho mais pormenorizado das dificuldades enfrentadas pelos estudantes no processo de produção textual.
Uma das estratégias que me têm sido bastante úteis no ensino de produção textual para o vestibular é o uso de algumas técnicas que, aliadas à prática da escrita, podem auxiliar o estudante a organizar melhor as suas informações no papel. Sempre defendi nas minhas aulas que o segredo para uma boa redação é o planejamento que você faz dela! Em outras palavras, planejar aquilo que se vai escrever é o primeiro passo para uma escrita relevante, com informações consistentes e cuidadosamente selecionadas.
A técnica apresentada por mim nas aulas em que converso com os estudantes sobre o desenvolvimento do texto dissertativo chama-se "Tempestade de Ideias". Quem conhece um pouco sobre dinâmica de grupos, criatividade e publicidade, sabe da existência da famosa expressão Brainstorming (ou tempestade de ideias), método criado pelo americano Alex Osborn para explorar e ampliar a capacidade de criação de indivíduos ou grupos. É exatamente desse método que aplico nas aulas de produção textual.
A Tempestade de Ideias, em produção textual, consiste na elaboração de frases sobre um determinado tema. O objetivo é fazer com que o estudante registre todas as ideias que ele possuir a respeito do tema para, em seguida, organizá-las e escrevê-las na redação de acordo com sua necessidade. O mais importante aqui é que o estudante precisa escrever essas frases, não as deixando apenas no campo do raciocínio, passíveis de serem esquecidas.
Dessa forma, o aluno tem um determinado tema de redação, por exemplo, Liberdade de Expressão no Século XXI, e a partir dele, vai-se registrando em forma de frases, fatos, opiniões, exemplos, situações vividas, questionamentos etc. sobre o tema em questão. De posse desse grupo de ideias, o aluno vai selecionando, organizando, remodelando, reescrevendo e transformando as ideias que mais se adequam ao seu projeto textual, de modo a convencer o leitor de suas ideias.
É claro que, da mesma forma que outras técnicas existente por aí mundo afora, essa é apenas mais uma e exige, com certeza, muita prática. Gosto especialmente desta porque trabalha com a criatividade, o trabalho intelectual e o planejamento de texto. Costumo apresentar essa técnica para os alunos escreverem desenvolvimentos de textos "dissertativos comuns", solicitados pelos vestibulares tradicionais. Porém, o método pode ser aplicado para redações estilo ENEM, inclusive para a escrita do texto inteiro.
Um problema, claro, que qualquer professor pode se deparar — e eu me deparo, certamente —, é com a falta de ideias dos estudantes. Não é todo tema que eles conseguem produzir essa tempestade. Isso, porém, pode ser resolvido com oficinas de discussão e debates antes da solicitação de produção textual. Na época em que estive em salas de aula da educação básica, começava o momento lendo e discutindo um texto com os estudantes para ambientá-los no tema e, só depois, solicitava a produção da Tempestade de Ideias. O resultado disso, óbvio, é relativo: pode funcionar em algumas turmas e outras não; pode funcionar comigo e não funcionar com o leitor.
Sabemos, enfim, que ensinar produção textual não é uma tarefa fácil, principalmente quando levamos em consideração as realidade que temos: alunos e professores que não leem, aulas de redação descontextualizadas de práticas reais de escrita, pressão institucional por resultados, muito conteúdo etc. O pouco que se pode fazer, por outro lado, para melhorar a situação de textos mal escritos é sempre bem-vindo e é isso que busco com o desenvolvimento dessa técnica em sala de aula: trazer para os estudantes formas diversas para que possam buscar compreender como a linguagem funciona e que estratégias se pode utilizar para garantir uma vaga na tão sonhada universidade.
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